Deus está morto, proclamava o profeta do ateísmo Friedrich Nietzsche; mas, no mesmo ano em que morria, 1900, o papa Leão XIII apresentava numa encíclica o sacrifício redentor de Cristo como o alfa e o ômega do homem e do seu destino. Essa dupla atitude, esse desafio, modela o período estudado no presente volume da História da Igreja, que vai de 1870 até o começo da segunda Guerra Mundial, em 1939. E bem podemos dizer que representa ainda hoje a principal explicação para as turbulências do nosso tempo. O autor traça-nos o panorama de todo um mundo que muda de alicerces sob o impacto de forças que parecem ameaçar a Igreja numa escala nunca dantes vista: é o laicismo de cunho liberal, que vem abertamente lutar contra a moral cristã, expulsar das consciências os velhos dogmas; é o ateísmo, que se alimenta do positivismo e do materialismo nas suas diversas vertentes freudismo, darwinismo, marxismo... ; é a religião da ciência, que lança o mito do eterno progresso. Enfim, é todo um conjunto de ideologias que se erguem para proclamar que homo homini deus em lugar do velho Deus assassinado, agora o homem é deus para si mesmo. Mas esse novo deus não tardará a revelar a sua verdadeira face nos totalitarismo triunfantes. Em oposição a essa cultura descristianizada e às vezes francamente anticristã, erguem-se quatro Papas de envergadura excepcional: Leão XIII, São Pio X, Bento XV e Pio XI. No combate por Deus que têm de travar, a velha barca de Pedro, aparentemente sempre à beira do naufrágio, não somente sobreviverá, mas sairá fortalecida. Quando Leão XIII é eleito Papa, em 1878, parecia um nobre vencido. Dir-se-ia estar tudo perdido, exceto a honra da bandeira da Cruz. Mas o sábio e hábil pontífice diplomata resolve as querelas políticas, encaminha as bases dos futuros partidos democratas-cristãos e traça de maneira decisiva os rumos da doutrina social da Igreja. Graças a ele, São Pio X, o papa-pároco de aldeia, pôde centrar-se no seu programa de tudo restaurar em Cristo. Foi sobre ele que recaiu a difícil e dolorosa tarefa de pôr termo à crise do modernismo, encruzilhada de todas as heresias, que deixaria rastro em muitas mentes até o dia de hoje. Mas o seu coração estava em reconduzir as almas à prática dos sacramentos e em promover a renovação espiritual da Igreja pelo incentivo à devoção eucarística e ao Sagrado Coração, ou pelo esforço de formar um clero zeloso e recristianizar os arrabaldes operários. O breve pontificado de Bento XV foi obscurecido pela terrível tarefa de conduzir a Igreja através do drama da primeira Guerra Mundial. Mas a sua grande tarefa foi na verdade preparar a paz, e talvez tivesse sido possível evitar a repetição da catástrofe se as potências vencedoras tivessem dado mais ouvidos à sua voz ao elaborarem os tratados de Versalhes. Pio XI, o papa dos grandes acordos foi no seu pontificado que enfim se resolveu a questão da Conciliazione com a Itália, da qual nasceu o Estado do Vaticano , foi também o papa dos grandes combates. Defensor fidei e defensor hominis defensor da fé e do ser humano , presenciou os atropelos do fascismo italiano, os desvarios do nazismo e a terrível perseguição aos cristãos lançada pelo marxismo no México, na Espanha e na URSS, e condenou com enorme fortaleza esses três ídolos monstruosos num momento em que pareciam estar a ponto de devorar o mundo. esta obra os grandes panoramas com que o autor retrata a expansão de uma Igreja que se faz à dimensão do mundo: é o apostolado do igual com o igual por meio das JOCs e da AC; são os Estados Unidos, onde a Igreja sobe em flecha; são as terras por batizar, onde avultam grandes figuras de missionários e mártires, como o pe. Damião de Veuster ou Charles de Foucauld, irmão universal; ou ainda a arte e o pensamento contemporâneos, que se renovam sob o influxo dos pensadores e artistas católicos. A obra termina com o retrato de Santa Teresa do Menino Jesus, padroeira dos missionários e desbravadora do pequeno caminho de infância, hoje tão conhecido. Nessa santa, que de certa forma condensa a intensa fermentação que podemos ver neste volume, encontra-se a resposta da Igreja ao desafio de Nietzsche: Deus vive, e continua bem vivo nesta Igreja de santidade.