Há relativamente poucos trabalhos de fôlego sobre "Cara-de-bronze", a polimórfica narrativa de Corpo de Baile, de Guimarães Rosa. Somando-se às congeminações fundamentais de Benedito Nunes, Rui Mourão, Heitor Martins, Ana Maria Machado e Luiz Roncari, o belo ensaio de Carlos Dias, em aguda formulação metafórica, intitulado A contradança poética: poesia e linguagem em "Cara-de-bronze", propõe repensar a recepção crítica formulada em torno desta narrativa rosiana. Carlos Dias, postulando uma unidade forjada entre as novelas do ciclo novelesco de Corpo de Baile, busca uma compreensão adequada do lugar de "Cara-de-Bronze" neste conjunto. No plano teórico, o autor recorre às formulações de Jauss e à teoria do trágico, para desentranhar do corpo narrativo uma poética compositiva, bem como examina as fontes eruditas a que recorreu Guimarães Rosa (Goethe, Dante, Bíblia, Upanishad, Plotino, entre outras). Não é o momento de antecipar resultados, mas, no âmbito da crítica rosiana recente, é a primeira vez que se formula uma hipótese de leitura para o enigmático titulado aspeado da novela, em seus desdobramentos poéticos. Ressalte-se, ainda, para além de fontes já indicadas anteriormente pela crítica especializada, a contribuição original apontada pela vinculação entre Guimarães Rosa, Thomas Mann (José e seus irmãos), Balzac e Shakespeare.