Gosto de pensar que poemas são objetos de montar, coisas que podemos construir com as mãos: quebra-cabeças, tangrans, origamis. Vem do Oriente essa artesania milenar de transformar quadradinhos de papel em pássaros, flores, barcos. Ao ler o livro de estreia da poeta mineira Bia Mergener, me deparo novamente com essa metáfora que é uma espécie de afirmação do fazer poético: os poemas, assim como outros brinquedos, montam-se e desmontam-se a partir dos arranjos que criamos com nossas mãos, órgão motriz e matriz conectado à cabeça e ao coração por milhares de células e canais energéticos. Cuidado, no entanto! Ao contrário dos brinquedos projetados para crianças, Bia Mergener faz do risco um convite, nos propondo um flerte com a melancolia e sua potencialidade de ocupar o mundo a partir de uma sensibilização singular. O prazer (como essência do lúdico) mantém-se, entretanto, intacto. Bia fabrica seus objetos-de-papel polindo suas arestas para que sejam finas e cortantes, como o (...)