“Quando me arrancaram daqueles lugares, onde tudo me ficava — pátria, esposo, mãe e filha, e liberdade! Meu Deus! O que se passou no fundo de minha alma, só vós o pudestes avaliar…!” Centrado na história de amor entre Úrsula e Tancredo, jovens que têm a relação marcada por obstáculos familiares, neste romance são retratados personagens até então marginalizados pela sociedade e condenados ao trabalho escravo, aqui representados de maneira humana e verossímil. É o caso de Susana, que descreve com pesar como fora arrastada da África, de um modo bárbaro e cruel, e separada de seu povo e familiares. Em condição similar, Túlio carrega consigo uma lealdade sem igual, mesmo àqueles que o escravizaram, além de nutrir um sentimento de pureza e humildade. Ambos imprimem um senso de esperança à narrativa. Por mais de um século e meio esta denúncia à condição de negros e mulheres do século xix, trazida em Úrsula por Maria Firmina dos Reis — uma das primeiras escritoras negras brasileiras —, caminhou entre a indiferença glacial de uns e o riso mofador de outros, mas resistiu à ação do tempo e continua reverberando em nossa sociedade.