Assim como a informatização atualmente, a eletrificação há alguns decênios, e mais precocemente ainda a industrialização, como ondas a que ninguém escapa por pouco que se esteja em seu caminho, a psicanálise sofre hoje, como chicotadas, uma rebentação: a etificação. Afirmaremos que assim etificada a psicanálise simplesmente não tem lugar. Que ela esta, portanto, em vias de... morrer de ética. Sem sabê-lo. Calamidade. Não de trata mais de supereu, aqui chegou a ética; não se trata mais do caso clínico, aqui chegou uma clínica do fato social; não se trata mais de método, aqui chegou o analista sabedor; não se trata mais de explicar a experiência, aqui chegou a psicanálise como ideologia. Esta quádrupla calamidade, entretanto, tem seu reverso de revelação ou de confirmação (pois já Freud sabia e sustentava isso): não há ética psicanalítica. Um caso nos ensina isso hoje, sem duvida mais exemplarmente que todos os que - numerosos - se encontram de forma semelhante (des)orientados por esta ética que não existe. Propomo-nos estudá-lo, a partir do testemunho parcializado e parcial que nos dá a obra de H. Besserman Vianna, Politique de la psychanalyse face à la disctature et à la torture. N´ em parlez à personne [Não conte a ninguém]. E do inenarrável happening a que este livro dá lugar, em Paris, Hospital Sainte-Anne, no domingo 9 de fevereiro de 1997. Ele também remete à existência ou à recusa daquilo que, há mais de vinte anos, tenta forçar seu caminho sob o nome, ainda mantido quase que absolutamente velado, de psicanálise derridiana.