Cultuado por muito tempo como o romance por excelência das relações humanas no universo da organização dos trabalhadores, Germinal retrata os primórdios da Internacional Socialista, constituindo simultaneamente um painel revelador da lógica patronal no início do capitalismo industrial. Publicado em 1885, o romance de Émile Zola narra uma épica revolta de mineiros na cidade de Montsou, onde estes se sublevam contra condições de trabalho draconianas. Enquanto as famílias operárias sofrem com muitas bocas para alimentar e pouco pão, a mina Voraz condena gerações de trabalhadores a cuspir carvão para obterem seu mínimo sustento. É lá embaixo, no subsolo, que surge a necessidade de se organizarem para sobreviver, e caberá ao recém-chegado Étienne Lantier profetizar novos tempos para a massa de carvoeiros que sufoca debaixo da terra. Na superfície, a mobilização foge do controle do líder operário, mas Zola evita maniqueísmos e arma com precisão os excessos de ambos os lados, com as derivas que a história registraria repetidamente no século XX. Não deixam tão rápido nosso imaginário os personagens pintados por Zola: a dilacerada família Maheu, o ambivalente engenheiro Négrel, os onipresentes e odiados capatazes, as moças frívolas, as corajosas matriarcas, os promissores vagabundos imberbes, os capitalistas de plantão, o niilista russo obcecado por um atentado, o pervertido dono de mercearia. Até o cavalo Bataille, as minas e suas máquinas são símbolos de resistência num mundo infernal onde os esforços não são apenas humanos.