Os deuses da literatura advertem que não é recomendável escrever romances maiores do que a vida antes dos 30 anos. E quando alguém propõe um diálogo, em todas as acepções da palavra, com Philip Roth, para muitos o maior escritor vivo em língua inglesa? E ainda mais em um romance de estreia? Pois é exatamente isso que Felipe Franco Munhoz nos entrega em ‘Mentiras’. Seu ambicioso objetivo é tecer, com a ajuda das mãos de Roth, o livro-travesseiro da sua vida, um travesseiro tecido com a coloração perfeita do fio. Seria um tanto reducionista afirmar que Philip Roth é apenas o alter ego ou o duplo de Felipe. E tampouco ele e sua obra é somente aquele/aquilo com quem se ‘conversa’ nas tardes de um café imaginário. Ao desaparecer um dentro do outro, eles são, a um só tempo, autor, personagem e leitor na construção deste romance de admirável fluidez formal, que nos remete não somente ao modernismo anglo-saxão, mas também aos exercícios do nouveau roman e à dramaturgia de Pirandello.