Este livro estrutura-se de três maneiras. Parte-se, primeiramente, de uma análise da forma da narrativa, de intensa carga dramática; posteriormente, a ênfase se dá através da linguagem, tanto do trabalho que Lispector faz dela em sua obra, quanto dos questionamentos acerca da linguagem literária, ou seja, a me-tanarrativa; por fim, na terceira parte, revela-se a condição trágica presente em Rodrigo S. M. de maneira mais abrangente. A consciência trágica, último capítulo do livro, mostra que se o trágico não pode mais ser escrito e vivenciado nos tempos modernos tal qual o era na tragédia ateniense, pode, no entanto, sobreviver e reinterpretar o universo da tragédia a partir do poder inerente da literatura. A hora da estrela mostra-se uma obra capaz de conduzir seu leitor à reflexão de que o trágico moderno consiste, justamente, na impossibilidade da tragédia ressurgir, pois a desmedida, que caracterizava o herói, não é mais uma desgraça que lhe acomete individualmente, já que na modernidade ela transfigura-se na forma de uma violência coletiva radicada no mundo. Rodrigo S. M. é a mascara de Clarice Lispector a procura de um rosto humano que lhe dê identidade.