Igualmente longe da difícil acomodação do conceito de lugar de fala na criação ficcional e dos prenúncios alarmistas de uma suposta ameaça à subjetividade humana que a IA traria, Drump Goo desloca as questões atuais por meio de uma poética radicalmente democrática: a autoria extinta, mais uma vez e ineditamente. Mais uma vez, porque se insere em uma linhagem amplíssima forjada na insistência de uma autonomia da obra em relação ao autor, da qual fariam parte figuras tão singulares e díspares quanto Catulo e Rimbaud, William Burroughs e John Cage, Lygia Clark e Marcel Duchamp. E ineditamente, porque os recursos de seus procedimentos são recentes e indicativos de um ponto de virada. Se chegamos a uma nova consciência da relação entre a posição do escritor e seu texto ou não, essa discussão vem no instante em que as vozes podem se perder na geração de discurso da máquina. É precisamente nessa fenda que os procedimentos poéticos de nem eu, nem máquina operam. Na perda do (...)