Entramos, como leitoras, neste livro, sem nenhuma indicação. Não temos no que nos apoiar, pois não conhecemos os contextos, a identidade das personagens, nada que nos assegure terreno real. A única pista é o título, e o próprio conteúdo do texto. Há algo, porém, que sabemos (e bem sabemos): há um corpo de mulher cravado em cada violência que estas frases soltas nos trazem, um corpo que não aguenta mais, e grita. E o desespero desse grito, esse conhecemos bem. Ele ressoa no nosso corpo. Essa mulher é uma mãe. Está desesperada. Já estivemos desesperadas muitas vezes, já tivemos medo. Já fomos invadidas pela fúria, porque a dor reverbera em nossas células mais escondidas. A dor de uma mãe desesperada é uma marca que ressoa em nossos corpos que menstruam e que guardam gargantas machucadas pelos inúmeros sigilos que nos foram impostos, desde a infância, desde o primeiro Fecha a perninha! que ouvimos, desde o primeiro Baixa a calcinha! que muitas, muitas de nós ouvimos. (...)