Na época de seu lançamento, em 1950, as críticas americana e inglesa receberam com fortes reservas o novo romance do já então famoso Ernest Hemingway, embora ele próprio o considerasse uma das melhores coisas que já escrevera. Acostumados à linguagem dura, direta, de seus contos extraordinários, e à economia de palavras que caracterizava sua prosa de ficção, os gurus literários consideraram que o texto de Do Outro Lado do Rio, Entre as Árvores estava dominado pelo excessivo e surpreendente sentimentalismo. Nele se encontram, porém, os temas tão caros a Hemingway, como amor e morte, o indivíduo em choque com o mundo em que vive, o contraponto entre a virilidade do homem enquanto cavaleiro-andante e sua sensibilidade de menestrel. Como protagonista da história, temos o coronel Richard Cantwell, da Infantaria dos Estados Unidos, que aos cinqüenta anos se vê dominado por um tédio existencial e regressa ao norte da Itália numa espécie de busca do tempo. Depois dos bombardeios da 2ª Guerra Mundial, com famílias ainda chorando seus mortos, e civis e militares caminhando rancorosos pelas ruas, os relatos de Cantwell impregnam-se de melancolia de quem viu como tudo aconteceu. Hemingway coloca muito de si próprio na figura do coronel Cantwell, nesse retorno simbólico à juventude e à paixão por uma linda mulher muito mais jovem. Mas a comunhão de fundo com diversas e curiosas aproximações possíveis entre o protagonista e o romancista não se prende às coincidências factuais e sim a um sentimento de exaustão em relação às guerras.