"Na busca pelas origens dos hotéis modernos, este trabalho concentra-se nas práticas sociais das viagens realizadas entre os séculos XVI e XIX pelos britânicos e germânicos, principalmente, aos países do sul europeu, o que caracterizou o chamado Grand Tour. Remontando às narrativas dos viajantes no século XVI, a autora nos leva a um tempo em que a história moderna ainda não tinha sido inventada e quando a topografia do estrangeiro se expressava num senso de hospitalidade absoluta. Todavia, essa proximidade se tornaria uma distância cada vez mais acentuada na medida em que a historicidade se constituía enquanto paradigma das formas de ver e narrar as diferenças. Durante as práticas do Grand Tour, as formas de ver se construíram a partir da aproximação com a arte, fazendo menção ao feminino como meio de se aproximar da alteridade. O recurso ao feminino possibilitou fundar lugares para a memória, o passado e o patrimônio, bem como para edificar narrativas de identidades nacionais. Também foi o núcleo que ensejou separações entre o público e o privado, embora suas versões negativas tenham servido para a desqualificação dos povos situados à margem dos processos de modernização ocidentais. Nesse sentido, a autora toca em questões como a expressão do (ex)ótico, isto é, aquilo que está fora da ótica Ocidental proposta pelos países centrais da modernização para pensá-la em razão das dinâmicas brasileiras. Pergunta-se assim como e por que substituímos com tanta frequência o velho pelo novo no ambiente construído. A hipótese deste livro seria a de que as nossas tradições não se constroem somente a partir do historicismo e das formas de ver modernas. Elas seriam hápticas e táteis, hospitaleiras às diferenças, sendo a sua desqualificação, amiúde chamada de atraso, uma tentativa falha de nos adequarmos ao Outro."