Em apenas três anos, 1923-26, o escritor português Raul Brandão (1867-1930) escreveu dois livros de viagens, um pelo litoral continental, outro pelas ilhas atlânticas dos Açores e Madeira, que se tornaram referências absolutas na literatura do país e são ainda lidos e comentados com grande curiosidade e acuidade. De facto, torna-se difícil percorrer esses lugares sem ter em mente as páginas de Os Pescadores e de As Ilhas Desconhecidas. Notas e Paisagens, tão certeira foi a capacidade de observação humana e descrição paisagística do escritor andarilho, considerado por alguns como um "pintor com palavras" e tais livros como "livros de pintor". Pela primeira vez nos estudos dedicados a Raul Brandão, Mágna Tânia Secchi Pierini abordou esses livros de evidente continuidade formal e estilística numa perspectiva integrada, com assinalável fôlego e profundidade, sem perder de vista a persistência neles do "carnaval negro expressionista" que marcou a restante obra do escritor. Pessoalmente, acredito que este seu ensaio ficará por algum tempo como referência obrigatória e incontornável na bibliografia brandoniana, servindo de estímulo a novas e mais variegadas leituras de uma obra fascinante, e por isso sempre de abordagem renovada e instigante. Vasco Rosa Lisboa - Portugal