Zibechi constrói neste livro um audacioso panorama crítico sobre a construção, recente, da resistência às forças capitalistas na América Latina, numa inédita abordagem de conjunto que, ao mesmo tempo que enaltece o que há de comum entre esses movimentos, reconhece também a riqueza de sua multiplicidade, de suas diferenças. Diferença que é vista como algo inerente à produção da vida nesses espaços de resistência – onde se resiste, também, porque se é diferente, frente à uniformização e à centralização que dominam a ordem hegemônica. Ao pensar esses movimentos pelo viés de sua des-territorialização o território se torna uma espécie de foco integrador, onde se conjugam as múltiplas dimensões da luta, que vão deste a busca por uma nova autonomia (como no Zapatismo) até o combate ao velho patriarcalismo (como na renovação das demandas feministas). Pensar a resistência pelo território implica, assim, criar “ilhas” de efetiva reapropriação de todas as esferas da vida frente a uma dominação que, reduzindo a vida à sua reprodução econômico-consumista, cria, simplesmente, territórios funcionais de dominação. Zibechi nos convida a acreditar na força desses contraespaços que, ainda que difusos, nos impulsionam a continuar produzindo territórios-rede de plena apropriação e usufruto de um espaço que é, ao mesmo tempo, abrigo de nossa reprodução física, cotidiana, e expressão do poder simbólico na riqueza diferenciada de nossos múltiplos tempos e culturas. Do prefácio de Rogério Haesbaert