Em um país em que os canais institucionais de representatividade em geral estiveram fechados à maioria do povo, a canção popular acaba sendo um caminho para que visões de mundo e percepções do cotidiano sejam expressas, percebidas, comunicadas e, como tal, virem objetos de re¬flexão. Esse é o caso do livro de Rafael Barreto Pinto sobre Noel Rosa e a malandragem. Noel é exemplo de um artista e filósofo popular que interpretou sua época e, ao mesmo tempo, pode ser compreendido a partir dela. Entre um Rio de Janeiro que sonhava com pastiches da Europa e outro que construía a vida nas margens malandras da sobrevivência e, em geral com bom humor Noel traçou, no breve tempo de uma vida intensa, um irresistível painel de uma realidade formada por muros de concreto, mas cheios de frestas por onde o samba inventou constantemente, na ginga malandreada dos seus poetas, a vida. Luiz Antônio Simas Historiador