A representação das relações de gênero em periódicos tem suscitado uma gama de análises historiográficas nas últimas décadas, que contribuem para compreender e complexificar os papéis de indivíduos a partir, principalmente, da particularidade de certos momentos históricos. Em O Transnacional e o local nas Revistas Reader’s Digest e Seleções, essas conjunturas historicamente variáveis são consideradas como fundamentais para se entender a forma como a revista norte-americana Reader’s Digest e sua versão brasileira, Seleções, levaram a seus respectivos públicos figuras de homens e mulheres de maneiras distintas e conjunturais, algo que na visão do autor Renan Fonseca só pode ser compreendido a partir de uma perspectiva de gênero tida como relacional. A obra analisa como ambos os periódicos foram capazes de apresentar e propor papéis de gênero determinados em distintos contextos sociais e políticos, ao levarem em conta as perspectivas locais de cada país e também as transnacionais, que por vezes colocavam as representações norte-americanas como ideais a serem reproduzidos. Esse movimento dialoga no livro com o modo como cada revista – em momentos como, por exemplo, a Segunda Guerra Mundial e o Golpe Civil-Militar no Brasil – selecionou e divulgou aspectos a respeito da atuação de mulheres e homens em diversas condições, mas principalmente em suas relações familiares, de trabalho, em suas atuações políticas e na consolidação de uma classe média de pretensões universais. As mulheres, nesse cenário, parecem ser vistas como protagonistas no espaço público apenas quando conveniente para uma política conservadora ou uma economia liberal, o que demonstra que, “ainda que estivessem ‘vivendo como homens’ por terem assumido novos papéis sociais, o reforço à sua ‘inerente condição biológica’ denuncia mais uma vez a essencialização do corpo da mulher”. Levá-las de novo ao lar sempre que suas movimentações ameaçassem um status quo predominantemente patriarcal será uma tentativa das