Falar em Esopo é citar uma sabedoria que não envelheceu, apesar de seus 27 séculos de idade. É mencionar a solidez dos princípios do homem através de perfeitos retratos do seu caráter e das fascinantes variações de seu comportamento. De tão sólidos, estes princípios sobreviveram, tal Homero e Virgílio, à criatividade de seus intérpretes e tradutores, entre eles um certo Jean de La Fontaine. E eis que, na virada de mais um desses séculos, o jornalista, contista e fotógrafo Pedro Ernesto de Luna resolve dar a sua interpretação às morais e às histórias do fabulista grego, instigado pela curiosidade da neta, pela vocação revelada de pesquisador e pela frugalidade e o frescor dos temas de cada uma das fábulas selecionadas em A fabulosa culinária do Mediterrâneo dos contos de Esopo, todas dignas de animados debates à mesa do jantar.O serviço deste jantar, mediterrâneo como convém a Esopo, nos é servido por Piero Cagnin, veneziano de nascença, brasileiro por sofisticação, que manteve absoluta fidelidade de técnicas e ingredientes, que, mal desconfiava ele, somente Alain Ducasse soubera descrever, em seu Cuisine de l’essenciel.A ligação entre a simplicidade dos contos e a leveza das receitas está tramada em um notável arrazoado sobre a gastronomia do Mediterrâneo de Esopo, que Pedro de Luna desenvolveu com apuro histórico e que antecede o capítulo dos Contos e Receitas.Em seus argumentos, que chegam ao requinte de explicar, seguindo os caminhos marítimos de Esopo, a origem de termos e paladares que levaram os sabores do Mediterrâneo à moda, revirou túmulos tebanos, investigou templos babilônicos e interpretou os dizeres de bíblias e alcorões.Em resumo, dois autores e suas histórias de alta moral se transformam nesta viagem pela fabulosa culinária mediterrânea dos contos de Esopo, que vai atiçar a mente fabulosa de jovens fabulistas ou a verve fabulista de cozinheiros fabulosos.