Para o correspondente internacional Fernando Eichenberg, uma entrevista é muito mais do que a busca por declarações bombásticas ou por opiniões sobre um assunto da hora. É, sim, um evento antecedido por cuidadosa preparação e muita pesquisa, que resultam num mergulho na obra do entrevistado. Assim, e somente assim, se pode estabelecer um clima de conversa íntima, por vezes amistosa, em que o entrevistado relaxa a ponto de fazer reflexões significativas sobre o próprio trabalho e a sociedade. Mas, apesar dos preparativos, é ainda um momento fugaz e imprevisível: não há volta para a decisão de fazer ou não uma pergunta e a conversa sempre pode tomar um rumo imprevisto ou não render como o imaginado. As trinta entrevistas aqui reunidas são fruto da longa experiência do jornalista aliada a uma profunda consciência quanto à delicadeza do ofício, e merecem um lugar muito além das páginas dos periódicos em que foram publicadas. Elas nos revelam, por exemplo, que a infância vivida observando o cotidiano no pequeno hotel administrado por seus pais foi de suma importância para suscitar o interesse de Pina Bausch pelo drama humano. Que o controverso escritor Michel Houellebecq, autor de Partículas elementares, não resistiu ao massacre e desligou a tevê após o 4º gol da Alemanha no dia da partida contra o Brasil na Copa de 2014. Ou ainda que foi por uma jovem brasileira que Charles Aznavour se apaixonou pela primeira e talvez única vez. Ou que, para Elisabeth Roudinesco, o Brasil é provavelmente o país mais freudiano neste início de século XXI.