Existe, no campo das artes, um mito da pureza originária. O mito de um instante no qual a obra de arte se revelou plenamente, sem nenhuma pertubação, numa correspondência plena entre o sensível e o inteligível. Esse mito é mais forte ainda na arquitetura, cuja elaboração pressupõe projetos, desenhos, maquetes. Assim também a história da arquitetura, sempre ávida de encontrar as intenções não realizadas, ou pertubadas, o "caráter" essencial (pensemos no uso desastroso e tão frequente da palavra "descaracterizado") de um edifício, não se preocupa com o seu vivido. Indo no sentido contrário dessas atitudes, o livro de Alex Miyoshi, escrito com paixão que contamina imediatamente o leitor, é triplamente precioso. Porque traz informações novas que enriquecem nosso conhecimento sobre um edifício essencial: o prédio do MASP, em São Paulo. Porque cria o mais fino tecido analítico e crítico, que se ramifica pela arquitetura, pelo urbanismo, pelas técnicas construtivas, pela museografia e museologia. E, sobretudo, porque tal resultado só foi possível graças a um enfoque exemplarmente histórico, no qual a obra estudada vem tomada em todas as suas metamorfoses, e como um projeto ideal.