Este livro é fruto de pesquisa primorosa. Silvia Brügger conseguiu identificar os membros de várias famílias em pelo menos três gerações, descortinando os projetos matrimoniais das parentelas, as relações preferenciais de compadrio, conflitos e tensões entre gerações, concubinatos e demais aspectos da vida doméstica dos homens e mulheres no mundo escravista do Brasil. Isso, sem deixar de atentar para a esfera produtiva e a direção das atividades extrativas/agrárias e comerciais, mapeando as transformações nas organizações familiares que ocorreram entre o período de auge da mineração e o de predomínio das atividades agrárias. A autora enfrentou, com coragem, a consensual afirmação sobre a especificidade de Minas Gerais em relação às demais áreas coloniais. Questionou o argumento corrente de que, em região mineradora, as relações familiares eram frágeis e que o patriarcalismo não teria a mesma força que em áreas agroexportadoras. Provou que esses argumentos eram exagerados. O maior controle da área por parte do estado português devido ao tipo de atividade - mineração - não inibiu a forma como a organização familiar se efetivava em terras do Brasil, mantendo-se os interesses familiares predominantes em relação aos individuais. As conclusões de Silvia Brügger são extremamente inovadoras, pois propõem uma outra interpretação sobre a sociedade mineira.