Morrer faz parte da vida, não da morte: é preciso viver a morte, diz Rosa Monteiro. Recordo-me dessa frase seguidas vezes ao ler os poemas iniciáticos de Yane San. Esse livro é sobre cair, livro de cânticos ao fim e ao silêncio. Parece que somos convidad@s a começar pelo fim, nesta terra em que se aceleram as partidas, em que falamos àqueles que já não estão, ou em que uma voz conversa impessoal e anônima com suas despedidas. Enquanto leitors, talvez, nos metamorfoseamos às pedras acompanhando o fluxo das línguas dos rios, corredeiras súbitas. Livro ritual das partidas, que celebra ou memora as mortes que não puderam ser vividas, os mortos que não puderam ser contados ou palavreados. Não sabemos se estamos no centro de um velório [seremos nós mesmos, leitors velados e revelados?] ou diante de um bueiro grande como a boca de Satã, faminto por nos arrastar em sua queda ao centro de um mundo. Um pouco errantes, quem sabe, nos labirintos do sonho de angústia em que um homem cai entre (...)