Neste poema em série, Daniel Arelli estabelece um diálogo com Louis-Auguste, o pai do artista lendo “O acontecimento” (1866), quadro em que o francês Paul Cézanne (1839-1906) pinta seu pai sentado numa poltrona, lendo jornal. Ao mesmo tempo emotivo e certeiro, Arelli dá a ver a relação conflituosa e afetiva entre o pai e o filho, continuidades e rupturas que configuram a própria obra de Cézanne. Verso a verso, o poema vai pintando os olhos do filho que olham o pai, sua cabeça inclinada, seus olhos fechando-se. E, tentando capturar a visão de Cézanne, o texto acaba por nos colocar no centro de uma das mais poderosas obras da arte moderna.