O motivo principal da excelência da tradução que Antônio Houaiss fez de Ulisses está, na opinião de Cid Silveira, em sua radicalidade. Entre verter simplesmente as idéias do texto e subverter o idioma para corresponder às invenções do original inglês, Houaiss optou pela última alternativa. E o fez, por vezes, com mais arrojo que seus predecessores (a clássica e bem-cuidada versão francesa de Augusto Morel e Stuart Gilbert, revista por Valery Larbaud e pelo próprio Joyce é, sob esse aspecto, bastante tímida).A grandeza e a autenticidade da obra de Joyce (que chegou a ser tachada, no começo do século, de “bolchevismo literário”) está em sua essência revolucionária, na sua insubmissão aos ditames lingüísticos. É impossível ser fiel ao espírito de Ulisses sem transportar a sua insubordinação lingüística para o idioma ao qual se queira vertê-la. Para Harry Levin, trata-se de “um romance para acabar com todos os romances”. É indispensável conhecer esta obra. Um escritor atual que não tenha lido Joyce é mais ou menos como um físico que ignore Einstein ou um sociólogo que não tenha tomado conhecimento de Marx.