"Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão, esta pantera Foi tua companheira inseparável." Estes versos foram escritos por um rapaz magrelo e pálido. Intitulam-se "Versos íntimos" e se tornariam o primeiro pilar de sua única obra: EU. Eis que surge, então, no cenário da literatura nacional, um expoente singular: Augusto dos Anjos. Augusto dos Anjos não teve sorte na vida: ninguém o compreendeu, ninguém o reconheceu. Passados 87 anos da sua morte, a verdadeira grandeza do poeta vem à tona com a publicação da 43ª edição da mais completa obra já feita, Eu & Outras Poesias, publicada pela Bertrand Brasil, com 217 poemas. O livro, lançado em 1912, já teve 42 edições. Desde a terceira edição, publicada em 1938, incorreções gráficas e ortográficas vinham se repetindo, totalizando 278 erros. À obra foram acrescentadas 11 dedicatórias, dois subtítulos e duas epígrafes. Merecem destaque cinco poemas não incluídos nas edições anteriores: "Lago encantado", "O beijo maldito", "À memória de meu colega Caldas Lins", " Este soneto" e "Anseios". Embora suas poesias tenham sido escritas há quase cem anos, os temas nela retratados continuam mais atuais do que nunca. A indiscutível força literária de Augusto dos Anjos coloca-o no mesmo naipe de poetas do quilate de Edgard Allan Poe e Charles Baudelaire. Eles introduziram, cada qual em seu país, toda uma temática centrada na dor universal: solidão, amargura, crise existencial e perplexidade diante das injustiças da vida. "Li o Eu & Outras Poesias na adolescência e foi como se levasse um soco na cara..." Vi como se pode fazer lirismo com dramaticidade permanente, que se grava para sempre na memória do leitor." (Carlos Drummond de Andrade) O AUTOR Augusto dos Anjos nasceu em abril de 1884, em Vila do Espírito Santo, Paraíba. Em 1900 publicou, no Almanaque do Estado da Paraíba, o soneto "Saudade", seu primeiro trabalho. Cursou Direito e lecionou Literatura. Em 1910, casou-se com Dona Ester Fialho e mudou-se para o Rio de Janeiro. Dois anos mais tarde, com auxílio financeiro do irmão Odilon, publicou o livro EU, com uma tiragem de mil exemplares. A crítica se dividiu entre aplausos e repulsa à publicação. Ele faleceu em 1914. Somente em 1920, Orris Soares organizou e publicou Eu (Poesias Completas), reedição do EU.