Com este Cavalo perdido, o leitor tem pela primeira vez a oportunidade de ler em nossa língua a prosa de um uruguaio que inventou um mundo raro na literatura do século XX. Contemporâneo de Borges e Onetti, Felisberto Hernández escreveu memórias de sonhos. Transpôs a experiência da infância e de suas andanças como pianista e caixeiro-viajante num registro singular: erotismo e humor nele se misturam à coleção de esquisitices do cotidiano para compor a atmosfera ficcional e poética de um devaneio recorrente. Um pianista se desdobra em outros e no mesmo narrador dessas sete histórias e uma Explicação falsa, abrindo nossos olhos para a estranheza e o desconcerto. Em seu percurso errante, desvela o segredo de relações insólitas: uma jovem apaixonada por um balcão; um lanterninha de cinema com luz própria; um vendedor de meias de mulher que aumenta as vendas derramando lágrimas de crocodilo No entanto, estamos em casa. Poucas vezes o relato fantástico ou estranho desceu tão fundo em nossa alma e na história de nosso tempo, tal como se revelam num canto ímpar do mundo que, de algum modo, é também o nosso.