Para a grande imprensa, a União Soviética e seus satélites europeus representavam uma poderosa ameaça em 1985. Uma superpotência militar agressiva e expansionista, apoiada em uma base material que não poderia ser considerada a de uma superpotência econômica, uma vez que não se destacava decididamente das da Europa Ocidental e Japão. Mas que ainda assim era a segunda economia do mundo. Ao fim do período essa ameaça não era mais perceptível. Construiu-se o discurso de que o comunismo foi um fracasso político, econômico e social desde seus primórdios. O que contrariava suas próprias afirmações de seis anos atrás, rapidamente apagadas da memória. Do auge territorial do sistema do socialismo real e das nações de orientação socialista ao colapso do próprio conceito político de Europa Oriental e de Segundo Mundo, oito anos depois, o anticomunismo e a imagem feita por este da experiência socialista, passou por uma revisão total, da qual Veja é testemunha engajada. Essas alterações discursivas, se orientadas e inspiradas por políticas externas e intelectuais autorizados, possuíam como alvo a formação da opinião dos grupos de leitores cativos da revista, e na formação de uma teia de argumentos e imagens discursivas que poderiam ser facilmente replicados, no rádio, telejornal, jornal e outras revistas, alimentando um extrato comum de repúdio à URSS e a todo adversário político e econômico interno que pudesse ser associado de alguma forma - mesmo a mais enganosa - aos interesses, métodos ou princípios pertencentes (ao menos no imaginário anticomunista) ao universo dos regimes socialistas. Aqui tentamos traçar essa mudança discursiva e como ela era objeto de uma tentativa de enquadramento na situação político-econômica no Brasil.