Figura maior da literatura de vanguarda, para quem a arte e a política deviam andar sempre juntas, Vladímir Maiakóvski (1893-1930) tornou-se conhecido em nosso país sobretudo por sua obra de poeta, graças, em grande parte, à pioneira tradução de seus versos feita em 1967 por Boris Schnaiderman e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos. Mas a genialidade de Maiakóvski ultrapassa o campo da poesia e se manifesta também no teatro. Um dos exemplos mais célebres é a peça Mistério-bufo, escrita e montada inicialmente em 1918. Retrabalhada ao longo de dois anos - e aqui apresentada, pela primeira vez no Brasil, em tradução direta do russo por Arlete Cavaliere, da Universidade de São Paulo -, a segunda versão da peça estreou no primeiro de maio de 1921, obtendo aclamação imediata. Mistura de comédia, crítica social e crônica paródica da história contemporânea,Mistério-bufo pode ser lida, entre outras coisas, como uma narrativa alegórica do processo revolucionário na Rússia. Combinando alusões à Bíblia com cenas e rimas das mais inusitadas - marcas de oralidade que ele resgata do teatro de feira e do circo -, Maiakóvski traça um retrato vertiginoso e bem-humorado de um tempo que se propôs a reinventar radicalmente a vida.