Tudo é tão inaugural na poesia de Laura Erber, que o leitor atônito tem por vezes a sensação de estar diante de um texto traduzido de alguma língua exuberante à qual só a poeta tem acesso, de sintaxe torcida e palavras curiosamente combinadas. Os poemas nos lançam num lugar de intensidade incomum; os «passados» não são «longínquos», mas «incógnitos»; a água é «dura», e, quanto aos amantes, «ninguém desmancha aqueles dois, nem na língua de chegada».Não espanta estarmos diante de uma autora tradutora, que verteu para o português, entre outros, os poemas em pro sa de Anne Carson. A tradução, se opera quase como mecanismo de criação, está também explicitamente tematizada nestas páginas, assim como a vida das imagens, outro campo de interesse da autora.