O jornalista Artur Aymoré mergulhou nos arquivos dos mais influentes jornais e revistas do Nordeste e do eixo Rio-São Paulo para analisar a cobertura e a leitura que a imprensa realizou, em 50 anos, da mais longa e épica de todas as revoltas já surgidas no Brasil. Considerado bandido pela imprensa brasileira no período, Lampião lutava por justiça social e contra um regime de opressão. Acabou lançando-se numa dimensão mítica, personificando o herói trágico. Nas quase duas décadas que durou sua luta, viu-se incansavelmente combatido e caçado pela Polícia Militar de sete Estados, tropas de elite do Exército e milícias mercenárias de latifundiários. A abordagem jornalística contribuiu para projetá-lo como o mais importante mito do Brasil moderno, em cujo processo construíram-se marcas em que a forma imaginária ultrapassou a história. Com o arrebatamento que todo bom texto jornalístico oferece ao leitor, este ensaio mostra que, tanto durante a trajetória em vida quanto após a morte de Lampião, a leitura e interpretação da revolta do líder cangaceiro foram expressas de modo ambíguo, explicitamente manipuladas e excessivamente ficcionais. A imprensa utilizou-se de discurso monossêmico e autoritário, fantasiando a realidade e, muitas vezes, deturpando-a.