Houve o tempo em que nas terras alagadas entre mar e lagoa não crescia nada além de mato e esperança, mas bastou chegar o primeiro homem que fincou no solo sua estaca de posse e soberba para do chão só brotar angústia. Enquanto eles, os homens gordos que aprenderam a medir a conduta a partir da largura das calças e não do caráter, fatiavam os pedaços de chão entre si e debatiam os nomes de suas fazendas, a mata urrava em desespero. A cada raiz arrancada, a cada tronco derrubado, a cada bicho abatido pelo puro deleite de ver sangue derramar, o verde se desbotava e os céus choravam chuvas para sua amante terra se reerguer. Infeliz foi o resultado, pois a usura dos homens venceu as defesas da natureza. Onde outrora se viam árvores frondosas de troncos rijos que ofereciam abrigo às dores da floresta, agora só cana-de-açúcar e mato de gado comer para onde alcançava a vista. As terras alagadas secaram, o mar abraçou a lagoa e juntos se encolerizaram. Não mais se ouvia a melodia dos bichos que voavam, não mais se ouvia o balançar das folhas, não mais se sentia o espírito das matas, pois ele fora reduzido a adubo de caramelo. Mas a mata jamais se fez por derrotada porque, enquanto o céu continuar pairando sob a terra, há de haver justiça no mundo.