Entre a rua e o seminário, cenário da adolescência do próprio Cony, Paixão segundo Mateus começa com mortes e investigações policiais, com uma mulher estirada na calçada, de camisola rosa apresentando manchas de sangue sujas de pó e uma fita vermelha entre os dedos. Quando o delegado sai de cena, ainda nas primeiras páginas, o leitor faz um longo passeio pela infância do seminarista Mateus em Vila Isabel, pelos escuros corredores de uma igreja pobre e abandonada e pela própria Igreja como instituição; visita um hospital católico, os escritórios de uma grande empresa patrocinadora de eventos culturais e os bastidores do Theatro Municipal. Os personagens e os cenários são marcados por infortúnios e desassossegos de corpo e alma: a igreja precariamente construída, onde apodrecem sinos belgas nunca instalados, e destruída pelo fogo; o padre manco que leva no corpo cicatrizes da obra de sua igreja e entrega as hóstias com sua mão-garra; o seminarista que se torna um advogado [...]