Segundo uma lenda tenaz, a psicanálise teria nascido da auto-análise de Freud com Fliess. Numa ardente colaboração, os dois amigos dividem projetos e teorias. Freud teria aliás tirado a idéia da bissexualidade do ser humano de Fliess, mas sem aderir a sua hipótese de uma periodicidade masculina e feminina regrando o destino e cifrada em 23 e 28 dias. Seguido a sua ruptura, nasce em Fliess a convicção de que é a vitima de um duplo plágio. O. Weininger e H. Swoboda - instruído por Freud, de quem foi paciente - lhe teriam roubado suas idéias. Este foi o início de um caso publico de que a imprensa se apodera; caso frequentemente embaraçoso para os biógrafos de Freud e jamais completamente exposto até agora. Nesta meio tempo Weininger se suicidou. Um caçador de plagiários, R. Pfennig, convencido de defender a ciência contra a metafísica, toma a defesa de Fliess e vilipendia seus imitadores. Swoboda inicia um processo de difamação contra Fliess... Erik Porge reúne pela primeira vez os dados da biografia de Fliess. Publicando a tradução do grande pleito deste, Em minha própria causa, e dos textos de Swoboda e Pfenning, ele entrega as peças de um dossiê que permaneceu confidencial na historia da psicanálise e enfim dá a palavra a Fliess. Sua leitura dos textos mostra com rigor que, em Fliess, o sentimento de ser plagiado tem sua origem nos elementos delirantes de seu sistema. Levado pelo entusiasmo, Freud se recusava a vê-los. Foi se apoiando neste desconhecimento que ele inventou a psicanálise e forjou sua teoria da paranóia. As conseqüências disto se fazem sentir ainda hoje.