Resgatar tensões vividas nas famílias do passado, ainda que não seja remoto, é penetrar num terreno particular-mente difícil. As vivências internas da família não são acessíveis facilmente no presente e são quase invisíveis no passado: existem fragmentos dispersos nas fontes mais variadas; a memória dos descendentes, quando existe, as coloca no passado mítico – em que o tempo não muda nada; os homens sempre trabalharam, as mulheres cozinharam, coseram e criaram seus filhos. Este estudo procura reconstruir fragmentos da vida privada de pessoas comuns, tendo como foco principal famílias de imigrantes chegados e estabelecidos em São Paulo, vindos principalmente da Itália e Portugal, que tiveram momentos de crise familiar documentados por processos de divórcio entre os anos de 1890 e 1930. Mediante essa base documental bem definida, procuramos reconstruir processos de crise familiar, tentando relacionar peculiares dinâmicas de relacionamento pessoal com o pano de fundo social histórico e cultural no qual essas famílias estavam inseridas.