A ação afirmativa como fundamento moral da democracia. É opinião corrente amplamente generalizada que a relatividade de valores ou propriamente o relativismo filosófico pode ocasionar dois problemas devido ao caráter subjetivo que apresenta: o primeiro consiste na admissão de uma realidade metafísica, proveniente do ego. O segundo é o pluralismo absoluto que inviabiliza a tomada de decisões, por desintegração da situação comunicativa estabelecida entre os portadores de diferentes valores. No entanto, Kelsen, que acaba por inovar o conhecimento da democracia, admite que os indivíduos, enquanto sujeitos do conhecimento, são iguais. Nesse sentido, admiti-se a democracia como a permanente possibilidade de rever decisões. Sendo que neste contexto o sistema democrático apresenta-se incerto nos seus esperados resultados, por garantir maior liberdade, mas, não apresenta a mesma incerteza na sua essência, porque assume características morais que fundamentam a liberdade, ao contrário de sistemas antidemocráticos, que são como uma programação, que implica em durabilidade autocrático-burocrática, talvez, mais eficientes, porém, desprovidos de moral, reduzindo drasticamente ou eliminando a liberdade, o que é inaceitável. Portanto, a defesa da ação afirmativa como sendo um fundamento moral da democracia, dentre outros existentes, possibilita um enorme avanço que tenta superar uma simples crítica à concepção da racionalização da moral (vide as posições da Escola de Frankfurt, com Habermas), estabelecendo, certamente, uma visão de um conteúdo moral da democracia, que (aproveitando-se da idéia kelseniana) pela qualidade superior, desta última, de se manifestar como possibilidade de revisão de decisões, a ação afirmativa comunica-se com todos os sistemas sociais parciais da sociedade, em constante processo de reavaliação de seus resultados, assim, ela se apresenta totalmente adequada ao sistema democrático. De grande importância e de extrema atualidade, portanto, apresenta-se o presente livro do jovem professor de sociologia, Sandro Cesar Sell, de quem tive a honra de ser orientador das disciplinas de prática profissional da advocacia e, também, do trabalho de conclusão de curso que, ora, se transforma, com mérito acadêmico reconhecido pela banca examinadora, em livro publicado. Em todo o percurso deste seu pensamento, o autor mantém viva a chama da democracia, especialmente, pela garantia de liberdade que a ação afirmativa produz, estabelecendo, à luz de textos jurídicos sobre a igualdade, uma posição pioneira na esfera da aplicação da ação afirmativa em nosso país, obedecendo ao rigor científico indispensável, no que se refere a averiguação da sua constitucionalidade, sem, contudo, perder de vista uma crítica sócio-filosófica.