Com uma prosa carregada e densa, que flerta com a poesia, Altair Martins conquistou lugar de destaque no cenário literário nacional. E tomou de assalto a crítica especializada: vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2009 na categoria melhor romance de estréia por A parede no escuro, também conquistou duas vezes o Prêmio Guimarães Rosa da Radio France Internationale e, ainda, o Luiz Vilela, o Josué Guimarães e o Açorianos. Em Enquanto água, ele retorna ao conto em um livro intermeado pelo mar, suas idas e vindas. Ao todo, são dezoito textos em que a água é tanto o ponto de união quanto de dispersão. Divididos em quatro capítulos, cada grupo de histórias segue uma sensação: chuva na cara, depois da chuva, garoa, água com gás. Na liquidez dessas tramas, a água pode aparecer como um viés do real, como em Da margem futura, um conto carregado de tensão, sobre um pescador e sua família. Já em O núcleo das estrelas, o elemento ganha uma qualidade fantástica, com o prolixo protagonista chamado apenas de o narrador. Um homem cheio de erudição e saberes que, de certa forma, o afogam. No conto O mar, no living, ele prova que o fantástico é um viés do real ou vice-versa. Dramas familiares corriqueiros como a disputa entre sogro e genro e a celebração do primeiro aniversário de uma neta se resolvem pela atuação da natureza que cerca os personagens. Original e repleto de experimentações lingüísticas, Enquanto água confirma Altair como um dos melhores contistas brasileiros. Fama que nasceu aos poucos em sua Porto Alegre natal, e ganhou folego e endosso da crítica especializada ao longo dos anos: “busquei o ritmo de rios e chuvas, os transbordamentos e afogamentos”, revela.