Este novo contista paulista prefere buscar suas personagens naquelas camadas da população onde as contradições econômicas e sociais do país provocam as suas maiores vítimas: trabalhadores braçais, desempregados, operários sem eira nem beira, biscateiros, prostitutas e toda sorte de gente marginalizada e sofrida que forma o espelho estilhaçado da tragédia urbana nas megalópolis como São Paulo. Salvo o conto A travessia (...) todos os demais transitam neste cenário, conferindo a Celso Lopes o legado típico dos contistas urbanos que marcaram as últimas décadas do século passado. Por esse ângulo, talvez não se deva conferir-lhe nenhuma originalidade, pois vários outros contistas de primeira linha já trilharam este caminho, como um João Antonio ou um Vander Piroli. O que não significa que ele não tenha uma aguda percepção da malha social brasileira e a intuição de explorar literariamente pequenos detalhes que lhe sobressaem. Ademais, o que não se pode negar em sua narrativa é uma particularidade que a torna originalíssima: o vigor da linguagem, que flui, viva e comovente, e de tal forma bem estruturada que consegue realizar o conto sem precisar sequer contar uma história (...) Paulo Martins