Combinando os textos de Paloma Vidal às imagens de Elisa Pessoa, Dupla exposição é um livro que investiga limites e interações entre linguagens, tempos e gêneros. Na introdução, a escritora Maria Esther Maciel o define como um ousado experimento narrativo-visual no qual os aspectos sensoriais da escrita se intensificam nos matizes e no movimento cromático das imagens, sem que estas fiquem a serviço daquela e vice-versa. Entre aproximações e desvios, as autoras sobrepõem o verbal e o pictórico para levar a um novo patamar seus trabalhos individuais que, em comum, abordam temas como a memória, o inconsciente e a intimidade. A obra inaugura a coleção Duplex, na qual o selo Anfiteatro abre espaço para livros que promovem o diálogo entre diferentes linguagens. Elizabeth Bishop, traduções, transcrições e paisagens invernais se mesclam na narrativa de Please come flying. EFA, por sua vez, traz recordações da infância, braçadas em piscinas e caminhos estrangeiros. Uma exposição de Edward Hopper no Gran Palais leva a reminiscências irreais em Sun in an empty room, enquanto Sempre a partida confunde sonhos e pronomes. Venice surge como uma série de quadros ordenados lado a lado, Tavistock Square é uma praça onde não há esquilos (mas há pássaros), 10 exercícios para surge pelo som de uma árvore que caiu com o vento, Un petit noir comme celui-là abre a janela para um mundo de devaneios e Melancolia: modo de usar constrói o universo condicional de uma viagem ao México. Em todas elas, cenas cotidianas, conversas casuais e memórias incertas se mesclam aos traços, cores e texturas que as acompanham, questionam e complementam. Trabalhando juntas desde 2013, Paloma Vidal e Elisa Pessoa dão continuidade a uma busca conceitual que também levou a leituras performáticas nas quais as linguagens se relacionam em um jogo de correspondências e desencontros na junção dos mais diversos elementos como a voz, a escrita e a imagem. Entre afinidades e dissonâncias, o familiar e o estranho, a prosa e a poesia, o visto e o não dito, Dupla exposição mostra como imagens e narrativas são capazes de travar uma relação simbiótica para acentuar mutuamente suas forças sugestivas. Mais do que isso, como na técnica fotográfica que dá nome ao livro, registros distintos resultam num híbrido que ganha vida própria e revela como a instabilidade pode ser capaz de promover uma surpreendente harmonia.