O livro de Andréa Doré é uma preciosidade que lembra os tesouros com que os europeus sonhavam encontrar no Oriente. "Sitiados" nos conta, com excelente narrativa, o drama que viviam os portugueses na Índia. Quando não faziam comércio ou tentavam missionar nos arredores de suas praças, passavam meses a fio encurralados em fortalezas muitas vezes sitiadas. O livro trata, em grande medida, da história, da história dos cercos transitando com perícia entre a análise microscópica e a interpretação geral.Já no início traz uma grande questão ao demonstrar que o plano português de ocupação de pontos estratégicos na Índia esteve baseado em relatos e mapas de viajantes italianos, particularmente Niccolo di Conti e Ieronimo da Santo Stefano. Mas o melhor do livro é a história dos cercos, do “reino intramuros”, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Neste ponto, nossa autora desvenda as sutilezas da política lusitana na região, o jogo de alianças, a erosão delas. Concentra-se, enfim, no império que domina, com toda razão, de sitiado. O “império português” no Oriente pode ser melhor observado, como mostra a autora, no interior das muralhas de Diu ou de Malaca. O ponto alto de "Sitiados" reside na análise das narrativas de cercos, que não foram poucos, quando se percebe o vai-e-vem frenético dos sitiados, o afrouxamento da disciplina, o desfazer momentâneo das hierarquias sociais.