Entre todos os estilos literários, nenhum outro se propõe a transmitir lições de vida de modo tão ostensivo quanto as fábulas. Ao seguir o formato de parábolas, geralmente ambientadas em tempos longínquos e povoadas por personagens fantásticos - com princesas encasteladas, príncipes encantados, bruxas maquiavélicas e animais com características humanas - para transmitir valores sociais, as fábulas se estruturam por excelência como um gênero moral. Por isso mesmo, o livro "Fábulas Imorais" (editora Gryphus), do jornalista e escritor José Alberto Braga (também conhecido pelo pseudônimo JAAB), pode parecer numa primeira avaliação uma contradição. É justamente o tênue limite entre o que seria moral e imoral o mote para Braga construir à sua maneira fábulas contemporâneas, com boas doses de ironia. A partir da epígrafe "a moral do outro contém sempre algo de imoral", o escritor questiona em histórias sucintas supostas verdades incondicionais. Afinal no mundo atual, em que as verdades são quase todas relativas, as fábulas, com suas aparentes lições definitivas, parecem deslocadas no tempo. No prefácio, o escritor angolano José Eduardo Agualusa afirma que as fábulas de Braga não são tanto imorais, mas de moral inesperada, com ensinamentos para um mundo em rápida mutação. "A arte de fazer sorrir, fazendo refletir - eis o que propõe José Alberto Braga, o JAAB. Ele tem-na apurado ao longo de muitos anos, e apresenta-a aqui, com o tempero certo, ironia e ternura, amargura e compaixão. Animais somos todos nós, animais à procura de uma moral. Quando a história chega ao fim compreendemos que por vezes não há moral alguma - simplesmente a história chegou ao fim", escreve Agualusa. Ainda no prefácio, o mesmo Agualusa define que as histórias criadas por Braga não se destinam a explicar nada: "como disse um brasileiro chamado Chacrinha, eu vim para confundir, não para explicar". Ao beber da mesma fonte de Esopo, La Fontaine e, entre os brasileiros, Millôr Fernandes