Assim como se liberta da constante e fatal sedução da aventura amorosa, Dom Quixote se liberta do ciúme. A entrega amorosa, sobretudo a entrega que ainda não conseguiu se satisfazer, isto é, ser recebida pela pessoa amada, assume um sentido unilateral que acaba por assemelhá-la ao Ser Divino “O herói confia em Deus e em si mesmo, conserva a alma isenta de mescla e da satisfação de apetites, mas ainda lhe falta o meio de agir, a técnica. Essa técnica é, afinal, a essência do heroísmo quixotesco; podemos defini-la como o dom de si mesmo. Entregar-se a si mesmo, fazer do próprio ser um simples mediador da obra que tem diante dos olhos, desaparecer nessa obra, consumir-se e enterrar-se nela como a semente no solo, eis o savoir faire do cavaleiro, eis o que o Quixote nos ensina, do primeiro ao último dos seus instantes”.