Concebidas originalmente como diário eletrônico de viagem, estas Imagens de um mundo trêmulo, de John Milton, utilizam algo de nossa atualidade tecnológica para refazer os passos daqueles observadores das cidades européias do século dezenove, quando as primeiras metrópoles representam o encanto a um só tempo assustador e promissor da nova face urbana que surgia, forma palpável da nova sociedade industrial. Mas o flâneur que percorre parques temáticos, corredores universitários, exposições de arte que parecem feiras de utilidades domésticas, escolas de treinamentos para lutadores de sumô, cidades devastadas por bombas atômicas, entroncamentos de trens e aglomerações urbanas, tudo isso mediado por um fio condutor em que a troca, a compra e a venda estão sempre presentes, mesmo que num tom de baixo contínuo - este flâneur tem de manter um olhar a contrapelo do ritmo do país, o que lhe permite ora a contemplação irônica, ora a discrição espontânea, todas, entretanto, com certo encanto agridoce, como se cada detalhe surgisse já com a despedida. Era este o futuro que nos havia prometido? Seriam estas as relíquias da tradição já reprocessadas em quinquilharias de última geração?