O livro Entre subordinações e insubordinações: mulheres de Rachel de Queiroz propõe discutir as relações de gênero cristalizadas nos textos literários e nos discursos sociais, com vistas a refletir sobre a naturalização de conceitos e preconceitos culturais, propagados no contexto do patriarcado. A obra aborda o engendramento do comportamento de Conceição, Dôra e Maria Moura, destacando como essas personagens negam ou confirmam as ideologias da cultura patriarcal. Elege-se como foco das análises as condutas diferenciadoras das heroínas, com vistas a compreender como essas protagonistas espelham em si o antigo e o novo, posto que rivalizam com questões do mundo exterior e seus próprios anseios. A escrita apresenta um olhar inovador, por aproximar protagonistas que revelam trajetos diferenciados, mas que mantêm em suas essências traços comuns em relação aos desejos de mulheres que ora se afeiçoam aos discursos sociais de submissão, ora se insurgem contra eles. Além de trazer para o debate discussões sobre as relações discriminatórias que cercearam a liberdade de atuação das mulheres no contexto do patriarcado, a obra revisita o percurso literário da escritora Rachel de Queiroz, refletindo sobre o protagonismo da própria escritora, que foi uma das pioneiras a desmistificar a inferioridade artística feminina, ao ser aceita num universo canônico masculino e misógino. Nas discussões sobre os romances O Quinze, Dôra, Doralina e Memorial de Maria Moura foca-se, sobretudo, na naturalização do biológico, que fundamentou os discursos sociais e renegou a mulher ao papel de esposa, procurando domesticá-la e confiná-la por intermédio do sacramento do matrimônio.