Levada pelo interesse em saber como aconteciam os casamentos mistos de escravos com livres, forros e administrados em São Paulo colonial, Eliana Rea Goldschmidt recorreu aos arquivos eclesiásticos, já que, na época, esse sacramento era da alçada exclusiva da Igreja católica. E encontrou, na documentação manuscrita da sede episcopal, o material que precisava para investigar de que forma os princípios da liberdade matrimonial se conciliavam com as regras instituídas pela escravidão. Os relatos dos cativos e seus futuros cônjuges sobre assuntos da vida antenupcial, associados à análise dos 1004 autos de Dispensas matrimoniais e casamentos do período de 1728 a 1822, permitiram à autora reconstruir a prática paulista quanto aos matrimônios, dando a conhecer os procedimentos que garantiam aos senhores, antecipadamente, não correr nenhum risco com os casamentos mistos de seus escravos.