De repente o mundo deixou de ser invisível na cegueira. O memorizado e o imaginado levaramno a enxergar o indizível. Levantouse do abatimento um poeta vigoroso, sensível às reminiscências e às sensações. Ora se recorda dos rios de sua infância na Amazônia, ora imagina os olhos da mulher, o riso da filha, as esquinas de Petrópolis; ora se lembra dos rostos dos amigos, como os via antigamente, ora tece feições para cada um deles, como bem deseja; ora lhe vem à mente o mundo de outros tempos, como águas definitivamente passadas, ora lhe surge um inusitado arcoíris, como o céu que todos almejamos. Tudo nele é vida. Este livro foi escrito por um homem que quis revelar, talvez mais que tudo, sua humanidade, essa mescla de fraqueza e vitalidade, essa mistura de credulidade e desesperança, esse quê de riso e lágrima, esse algo de medo e coragem, essa cisão de viver e morrer. A maior grandeza de Às margens do olhar é mostrar como a vida vale a pena. Olhos úmidos, olhos claros, olhos cintilantes, olhos videntes, olhos milagrosos, tantos são os olhos que suplantam os olhos cegos. Louvados, pois, sejam os olhos poéticos e transformadores .