Como a panela que começa chiando baixinho e logo toma conta dos sons de uma cozinha, as poesias aqui são escrevivências pulsantes, tecnologia ancestral com tempero próprio da autora; um convite a mergulhar o pão num guisado temperado a verso e prosa. Molha-se o dedo para provar o gosto das páginas, numa experiência sinestésica de olho-verso-saliva-peito, onde o gosto do frango no centro mistura-se ao amargor de um coração partido. Marcante. Essa fome chamada desejo transcende a barriga cheia, dispensa talheres, exige toque. É a conversa entre peito cheio e tábua de corte, a fome e a vontade de comer [poesia]. Também o cuidado que rompe com o definido, se apropria da própria dissidência, aceita o instinto e o alimenta. E para quem tem coragem de provar dessa bacia, de melar-se na polpa dos versos aquosos: lambuze-se.