O objetivo deste livro é expor uma interpretação do Brasil colonial diferente da tradicional, que o resume a um grande canavial escravista, refém do capitalismo dito comercial. O próprio termo colonial surge apenas em fins do século XVIII e traz uma visão de extrema dependência. Num contexto mais geral, provocamos uma reflexão sobre a dinâmica da América e do império ultramarino luso, confrontando-os com o espanhol e o inglês. Partimos da ideia de que a América lusa e seu sistema atlântico resultaram da ação de ho-mens e mulheres das diferentes sociedades presentes no sul da Europa, África e América. Os agentes europeus trouxeram na bagagem o Antigo Regime católico e suas ideias esta-mentais, de pertencimento à monarquia, de autogoverno dos municípios, de devoções ao além-túmulo etc. Do outro lado do Atlântico, sabemos pouco sobre os valores das popula-ções indígenas americanas e africanas, mas certamente foi com eles que enfrentaram e negociaram com os europeus. Este processo resultou numa sociedade calcada no Antigo Regime, ainda que diferente: aqui a base foi a escravidão, a mestiçagem e as relações de patronagem/ clientela, terminando por redefinir a estratificação estamental.