Os versos de Pedro Lucas Bezerra constroem uma poética atravessada por visões transfiguradoras do cotidiano. A paisagem da cidade do autor, Natal (RN), marca uma geografia ao mesmo tempo pessoal e coletiva, que vai dos lugares públicos aos espaços privados e cotidianos. Becos, viadutos, as avenidas, o porto e o mar estão povoados de personagens à procura de um lugar: os trabalhadores, os marinheiros, os peixes, a musa ausente, as mulheres que cospem fogo e o próprio poeta em sua epopeia íntima. A delicadeza do cotidiano se abre para a perplexidade do sentido redescoberto ou intuído, com grande força e, muitas vezes, com contornos apocalípticos.O poema que dá título ao livro aponta para uma poesia que se afirma como um discurso de urgência sensorial, que combina o acaso, o prosaico e as alterações de percepção.