Contos de Província é feliz e justo título para este livro de Juraci Costa, que obteve menção honrosa no Concurso da Secretaria da Cultura do Estado de Sergipe em 1996. Os contos aqui reunidos são rápidas iluminações emblemáticas dos minguados horizontes da vida dificultosa e miúda de qualquer cidadezinha do interior nordestino, com seu linguajar peculiar, seu conglomerado de gente sofrida, politicalhos gananciosos e tipos bizarros. São histórias caladas da infância aprisionada na pobreza, nos maus-tratos e na solidão; histórias reservadas das vozes mal ouvidas, sem espaço social, beirando a indigência; histórias pitorescas de afazeres quase desaparecidos, de excentricidades patéticas; histórias revoltantes de injustiças, de seres interesseiros; histórias que parecem vir de longe, quando os homens ainda cumpriam a palavra empenhada. A rusticidade e a simpleza dos sentimentos das personagens tornam os seres humanos mais íntimos de bichos que de seus pares, como em "Bilisco" ou como, apesar da ironia, em "Seu Josafá". Diversamente, é em "Benvindo" que o ponto de vista privilegia a indistinção entre essas duas espécies, no que tange à truculência. É quando se esbatem, como se estivessem uma dentro da outra, a presente briga entre os galos e a lembrança da briga entre os machos. Momentos de intersecção de duas cenas, em que a narrativa dissolve os contornos e as identidades, a ponto de não sabermos quem abate quem talvez este seja o ponto mais alto e mais tocante dessa merecida premiada coletânea.