Se atentarmos nas afirmações de René Char, de que A poesia é o amor realizado do desejo que permanece como desejo, ou de que Aquele que vem ao mundo para nada perturbar não merece nem consideração nem paciência, talvez possamos olhar Nos confins de um lapso, de Fernando Chagas Duarte, e perceber esse frágil mas persistente canto, que se tenta fazer grito, elegia, poesia, em todos os sentidos. E é um canto por entre tensão, quer filosófica, quer expressiva, nos meandros dialógicos da subjectividade e objectividade interior e exterior, sobretudo em alguns dos textos, pois, como profere: desconheço/a cópula infernal/dos insectos/desconheço/o impossível milagre/das rosas/ é que o tempo/tem o paladar do engano/essa substância espessa/da ingratidão. Se escrever poesia hoje, a julgar pelos actuais circunstâncias de insanidade do mundo, poderá expressar uma atitude susceptível de ainda se resistir, a questão da utilidade do acto poético impõe uma abordagem mais profunda dos impasses que(...)