Aletrícia nasceu de uma grande coincidência alfabética e jamais negou sua origem. Filha de Alcides Barbosa Cansado e de Ana Bonfim Cansado alimentava-se da ordem alfabética. Criando ordem para todas as coisas, imaginava livrar-se dos imprevistos da vida. Até que conheceu Zoroastro, contador, funcionário da Secretaria da Fazenda e apaixonado pelos números. Foi amor à primeira vista: primeira e última letra do alfabeto. Cada vez mais unidos, começaram a fazer planos para o casamento. Mas, de repente, a ordem fugiu do controle, e a moça foi surpreendida pela doença, desordem e exagero da morte. Aletrícia não se apaixonaria por mais ninguém: não existia nenhuma letra depois do Z. Apegou-se com furor doentio ao alfabeto. Os anos foram passando. Lentamente, seu olhar perdeu em brilho e ganhou em tristeza; depois, foi enfraquecendo e perdendo o interesse pelo mundo até que partiu serenamente e sozinha.